Umberto Eco, em "A Obra Aberta", defende a teoria de que a obra de arte pode criar uma maneira de ser modificada pelos próprios destinatários, mas admite que uma obra também apresenta determinados aspectos que guiam as interpretações dos leitores.
Lector in Fabula : Diz que todo texto é uma cooperação entre leitor e escritor. Diz sobre o texto literário, mas isto se aplica a todos os tipos de textos.
Todo texto é incompleto
1° Porque este depende da interepretação do leitor. É ele quem conhece os termos usados e estes dependerão do conteúdo correlacionado. Ele depende da "Competência Gramatical" do leitor, e isto não significa apenas acessar seu dicionário mental, mas reconhecer um termo e seus possíveis significados e decidir qual deles se encaixa no contexto proposto.
2° Todo texto é cheio de "não-ditos" (aquilo que não é verbalizado mas é compreendido pelo leitor). Sua percepção depende de movimentos cooperativos por parte do leitor.
Exemplo
" João entrou no quarto. “Então voltaste!” exclamou Maria, radiante."
- A atualização do sentido envolve uma série complexa de movimentos cooperativos. Devemos estabelecer que o “tu” implícito no uso do “voltaste” se refere a João. Também inferimos que Maria se encontra no mesmo quarto que João, e que o uso do verbo “voltar” indica que João já esteve ali antes.
Há aqui um movimento "extensional" por parte do leitor, ele constrói o cenário a partir de indícios subjetivos.Por isso, todo texto possui "espaços em branco" que serão preenchidos pelo leitor. E o autor prevê que isto acontecerá, e os deixam de propósito:
- Primeiro porque o texto é um produto econômico (ou preguiçoso) que depende da interpretação e valor dados pelo destinatário.
- Segundo porque ao deixar de ser didático e se tornar mais estético o texto pede que alguém o ajude a funcionar, deixa para o leitor a função interpretativa.
Como o Texto prevê o Leitor
Como o texto deve ser interpretado e o autor, ao imaginar como os espaços em brancos serão preenchidos, têm de prever que tipo de pessoa lerá seus texto, surge o Leitor Imaginário.
Para que isso ocorra, o autor deve supor uma série de competências que constituam seu Leitor Modelo.
"Um texto é um mecanismo cujo destino interpretativo deve fazer parte do próprio mecanismo gerativo. " Gerar um texto quer dizer executar uma estratégia, ou seja, prever os movimentos dos inimigos (leitores)
Por um lado o autor pressupõe as ditas competências, mas em certos momentos ele as imporá: referências a um personagem podem não requerer mais explicações se esse personagem foi apresentado e descrito em um momento anterior do texto, por exemplo.
Textos Fechados e Abertos; A fim de se evitar as suposições ou interepretações erradas, o autor pode fechar o sentido de seus textos. Isso não quer dizer que não haverá espaços para múltiplas interpretações, mas a leitura muito desvirtuada de um texto fechado é considerada uma violência e não uma cooperação.
Já um texto aberto é aquele que não criará resistência contra a possibilidade de aberturas em sua interepretação, mas pode até assumí-las, criando ambiguidades propositais.
Uso e Interpretação: A interpretação sempre envolve um diálogo entre as estratégias usadas pelo autor e a resposta do leitor. O Uso de um texto pode escapar ás estratégias/previsões de um autor e configurar em uma violência. Sendo menos suscetível em textos fechados.
Autor e Leitor como estratégias Textuais: No processo de comunicação temos um Emitente, uma Mensagem e um Destinatário. E é comum que o emitente e o Destinatário sejam evidenciados na própria mensagem → Eu digo a você.
Mas na maioria dos textos o autor não é manifestado com clareza, sabemos que ele escreveu, ou o texto não existiria. E o mesmo vale para o leitor, ele pode ou não ser referenciado no texto.
Dessa maneira, o autor ou leitor são geralmente percebidos apenas como estratégias textuais
Assim, podemos supor a existência de um autor-modelo como produto da interpretação textual, da mesma maneira que o autor pensa no Leitor-modelo quando cria seu texto. Trata-se de análises pelo o que o texto fornece e não de outras fontes, como dados biográficos do autor por exemplo.