Agora, em uma terceira postagem (em um espaço de tempo bem menor do que as anteriores) venho falar da ópera "The Ghost of Versailles". Lançada pela associação metropolitana de ópera dos Estados Unidos, ganhou uma versão (já "out-of-print") em VHS. Minha sorte foi encontrá-la no Youtube (mesmo que já estivesse planejado proceder assim...) dividida em 19 partes de 4 a 7 minutos.
A primeira parte da ópera pode ser vista abaixo, para as próximas partes é só acessar o canal e procurar por "Ghost of Versailles" part X - 19.
Essa ópera, escrita por John Corigliano, possui apenas dois atos. Foi na verdade um pedido da "Metropolitan Opera" a Corigliano pela comemoração de seu centésimo aniversário que, em uma parceria com William Hoffman, levou sete anos para ficar pronta. Eu, particularmente, achei o trabalho fantástico, uma vez que recria o universo de Fígaro (Da ópera o Casamento de Fígaro) dentro do contexto da Revolução Francesa.
A ópera foi gravada durante uma de suas apresentações na Ópera Metropolitana, tendo intervalos, palmas e até risos do público.
Maria Antonieta é inicialmente apresentada como uma mulher melancólica, desesperançada. Ainda sofre pela morte na guilhotina e tudo o que deseja é chorar. Está cercada pelos fantasmas dos nobres e de seu parvo marido: Luís XVI. Nada a faz feliz, prefere estar debruçada sobre uma fonte a divertir-se com a corte. Mas tudo muda quando Beaumarchais (autor de teatro francês, criador de peças como O Casamento de fígaro) aparece em cena para declarar seus cuidados à rainha. Deseja entretê-la: É esse o seu único objetivo. E para isso escreveu uma ópera "A Fígaro for Antonia" exclusivamente para Maria Antonietta. Mas a ópera não se resume às peças habituais dos teatros: Beaumarchais promete ainda ressucitá-la com seu poder, valendo-se do colar que usava.
Maria Antonieta concorda com a situação e logo surge Fígaro, sempre malandro, atuando na casa do Conde, que logo o despede por acusar o noivo de sua filha de "espião da revolução". Surge em cena o vilão Bégearss, prometido de Florestine.
Sua única intenção é enganar o Conde para obter o colar da rainha e vendê-lo para a Embaixada Inglesa.
Maria Antonieta continua deprimida ao longo da história, mas Beaumarchais revela finalmente o seu plano: Assim que o romance de Florentina for concluído e Fìgaro derrotar o vilão, ela, Maria Antonieta, será colocada em um navio rumando em direção ao Novo Mundo, onde ele, Beaumarchais, a esperará para eternamente entretê-la. Luís XVI toma este fato como ofensa, percebendo quando Maria Antonieta começa a ocilar com os charmes do escritor francês. Até o momento ela vinha resistindo com todas as forças, mas a partir daqui ela se deixa levar pelas promessas fantasiosas do homem.
Com o desenrolar da peça, Maria Antonieta abandona o seu lado melancólico e sofrido e passa a desejar ardentemente viver, ignorando o fato de que isto a faria perder a própria alma (afinal, trata-se de bruxaria).
Logo Fígaro se revolta com a situação e se pergunta por qual motivo deveria ajudar a monarca. Maria decide mostrar-lhe o julgamento injusto que teve e logo a cena passa a ser reproduzida. Aqui ela se mostra a mesma mulher racional tratada no livro de Zweig e no Documentário já estudado. Os autores da ópera tiveram o cuidado de reproduzir as célebres frases de Maria Antonieta no seu julgamento. Mas infelizmente isto não comove o público e este parte para cima dela, despertando a clemência de Fígaro, que se convence a ajudá-la, agora presa.
Fígaro, agora partidário da causa de Maria Antonieta, consegue o colar de volta e o entrega para Beaumarchais, quem fará a magia para libertar a ex-monarca. Mas nesse momento Maria Antonieta percebe que não quer mais mudar o curso da história. Que sua verdadeira liberdade estava no amor que ela não viveu e que foi graças às atitudes de Beaumarchais que ela compreendeu que "Esquecimento é o unico caminho para aa liberdade". E por isso aceita a execução, vivendo um "feliz para sempre" ao lado do escritor no outro plano.
Gostei bastante dessa ópera, mesmo estando completamente reversa e trazendo uma situação praticamente impossível. A fusão de Fígaro ficou extremamente interessante e o vilão psicótico colaborou muito na questão da comédia. Maria Antonieta aqui passa de um espírito melancolico e sofrido para uma mulher resolvida e certa de sua salvação. Os atores são muito bons nos papéis que representam, recomendo fortemente para quem gosta do gênero.